LGBTI+: Evidências de uma Realidade a ser Transformada!

Esse é o último texto da trilogia que aborda a temática LGBTI+ apresentado no Blog Aprendendo Humanas. Sua base argumentativa, foi a “Pesquisa Nacional sobre o Ambiente Educacional no Brasil 2015”, este relatório faz uma contribuição crítica, apresentando dados e depoimentos de pessoas LGBTI+ no ambiente escolar. Executada pelo Grupo Dignidade, Centro Paranaense da Cidadania, Instituto Brasileiro de Diversidade Sexual, entre outras entidades.  

Bem, então bora lá! Para começar quero trazer o que considero uma das principais conquistas do nosso movimento: no dia 17 de maio de 1990 a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou o termo homossexualismo da lista de distúrbios mentais do Código Internacional de Doenças. E por que isso é importante? Lembram que no texto dois, trouxe o caso do matemático inglês, Allan Touring? Ele se suicidou após sofrer uma castração química, que era considerada uma forma de “cura” para a sua condição homoafetiva. “Cura” porque a homossexualidade, naquele momento, era considerada uma condição patológica, ou seja, uma doença.

E, por ser considerada uma doença, as pessoas LGBTI+ eram submetidas a tratamentos psiquiátricos. Um dos métodos de tratamento utilizado, era a lobotomia, uma espécie de cirurgia no lobo pré-frontal do cérebro, eram realizadas perfurações no crânio do paciente e a remoção de uma pequena porção da massa branca do cérebro. Obviamente, muitas pessoas morreram nessas cirurgias e muitas tiveram graves sequelas.

Trinta anos se passaram desde que a comunidade médica reconheceu a homossexualidade como uma das expressões que compõem o amplo leque de desejos e de diversidade sexual presentes no comportamento humano, mas esse discurso parece não ter sido totalmente incorporado pela sociedade e os casos de violência e outras formas de violações de direitos da população LGBTI+ são rotineiros.

A LGBTfobia abrange formas de violências mais amplas que aquelas oficialmente tipificadas no Código Penal Brasileiro, representadas em crimes de ódio, ligados não apenas a uma pretensa rejeição irracional a relações homoafetivas, mas a um comportamento perverso de desqualificação da humanidade deste outro, como podemos perceber nos depoimentos abaixo:

“Certa vez ao sair da escola com a minha amiga (lésbica), dois garotos da nossa sala nos perseguiram até quase chegarmos à minha casa (moro a 5 km da escola). Enquanto corríamos com medo, os dois gritavam coisas como: aberrações, filhos do capeta, abominação e coisas do tipo. Depois do ocorrido fui para a escola por mais uma semana, e depois desisti de estudar aquele ano (2015), pois não me sentia seguro”. – Relato de um estudante gay de 16 anos, do estado do Mato Grosso.

“O meu ensino médio foi horrível, graças aos meus colegas estudantes e aos funcionários da minha escola. Era difícil para mim, acordar todos os dias e ir para aquele inferno”. – Relato de uma estudante lésbica de 17 anos, do estado do Rio Grande do Sul.

“Sofri segregação de professores e estudantes da instituição, bem como fui motivo de chacota durante todo o ensino fundamental e médio por gostar de dançar, ser muito feminina e apanhei muito em casa por isso, além de meu padrasto ter me colocado para trabalhar em duas oficinas mecânicas ainda na adolescência: ‘para ver se eu tomava jeito de homem…’” – Relato de uma estudante trans de 17 anos, do Estado da Bahia.  

As agressões físicas ou morais em ambientes educacionais, levam as pessoas LGBTI+ a ter baixo desempenho escolar, infrequência nas aulas e desistências, além de depressão e o sentimento de não pertencer a estas instituições. A escola que deveria ser um espaço seguro e inclusivo, preparando cidadãos para uma sociedade igualitária, acaba por se tornar um ambiente hostil e violento.

Os casos de violência contra pessoas LGBTI+ são uma realidade cruel e sem precedentes além da intolerância, do desrespeito e da ignorância, como podemos observar nos casos abaixo:

“Alexandre Ivo, adolescente de 14 anos, sequestrado, torturado e assassinado no município de São Gonçalo, Rio de Janeiro, em 21 de junho de 2010, vítima da homofobia”.

“Cleides Antônio Amorim, professor da Universidade Federal do Tocantins, Campus de Tocantinópolis, assassinado em um bar da cidade com uma facada em 05 de janeiro de 2012 por um desconhecido cujo único motivo era “odiar viado”.

“Elisabeth Lowe, 14 anos, que se enforcou em setembro de 2014 em um parque, em Manchester, Inglaterra, por estar em conflito entre a sexualidade e a religiosidade, e por temer que os pais religiosos não aceitassem o fato dela ser lésbica”.

A questão da violência contra a comunidade LGBTI+ precisa se tornar mais visível, para que coletivamente possamos ampliar o debate e encontrar soluções, baseados no respeito e reconhecimento das diversidades sexuais e da igualdade de gênero. Apenas dessa forma, essa realidade será transformada!

Encerro essa trilogia, que teve a intenção de contribuir para a discussão das questões de gênero e sexualidade, com dados e relatos para refletirmos sobre a condição das pessoas LGBTI+, levando em consideração que, toda e todo ser humano merece respeito, e devemos aceitar as pessoas como são, sem fazer julgamentos, apenas respeitar e acolher a diversidade.


REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Secretaria de Educação. Pesquisa Nacional sobre o Ambiente Educacional no Brasil 2015: as experiências de adolescentes e jovens lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais em nossos ambientes educacionais. Curitiba: ABGLT, 2016. Disponível em: <file:///C:/Users/hp/Desktop/Cidadania%20LGBTI+/Unesco%20Jovens%20LGBTI%20nas%20escolas.pdf> Acessado em 16/07/2020

REIS, T.org. Manual de Comunicação LGBTI+. 2a edição. Curitiba: Aliança Nacional LGBTI/Gay Latino, 2018

Autor: Fabio Gertoniano

Professor de Sociologia, praticante de Montanhismo.

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